Estes dias, eu estava voltando do cursinho e me vi obrigada a passar no supermercado para comprar meu almoço - uns empanados de R$ 0,49.
Meu professor de redação mora em frente ao supermercado e comecei a lembrar o que ele havia dito em aula: que os mercados distribuem os itens estratégicamente por onde passam os olhos de seu público-alvo. Ou seja, itens para adultos - como cremes antirrugas e fraldas - encontram-se nas prateleiras do alto, e as balas e os itens para festa se encontram rentes ao chão, justamente para que as crianças possam segurá-los, enquanto gritam: - Mão me compra isto e isto e isto e mais isto? E também este bichinho superdivertido (superdivertido!! o bichinho não serve para nada, é uma cruza de pônei com Jão-bobo, mas ele é rosa choque e está ao alcance de suas mãozinhas)?
O pônei sem patas é o de menos, pior é esta: - Mãe me compra esse cerealzão? Vai durar todo ano!
- Filho, isso é ração pra cachorro (Freud explicaria: ração pra cachorro é apenas um item para adultos que a prateleira não suporta).
Mas tem um detalhe que a maioria dos organizadores de item ignoram: crianças-de-colo-que-sabem-falar! Estas pobres crianças ficam aborrecidas em supermercados, pois seus olhinhos ficam na altura dos itens para adultos. É para elas um grande mistério o fato de seu irmãozinho se divertir tanto por lá.
Bem, chega o momento de passar no caixa. A mãe se dirige ao caixa 3, que é por onde devem passar as pessoas com mais de 50 itens. Enquanto a mãe tira as coisas do carrinho, a criança de colo vê o irmão se deliciando com a escolha entre dezenas de variedades de chicletes que ficam bem na frente do caixa e - o mais importante - ao seu alcance. Na altura da criança de colo, só giletes e isqueiros. De repente, eis que surge em seu campo de visão, como se milagre fosse, de todos os sabores: morango, uva, chocolate! Então, a criança de colo estende os bracinhos na direção daquela que é a única coisa que lhe agradou em toda a sua história de frequentadora de supermercados num colo de mãe.
A criancinha começa a gritar com a força que só cordas vocais muito jovens têm. - Manhêêê me compra esta?? A de uva, mãe. Eu quero de uva!
A mãe, constrangida, pois é observada pelos olhos de todos os que estavam no super, tenta acalmar a filha que grita em desepero, pedindo que a mãe lhe comprasse - sem saber - um pacote de preservativos sabor uva.
O iramãozinho que também é inocente (mas apenas neste sentido, pois já sabe mentir, chantagear, estorquir os avós e chutar como ninguém) percebe que a irmã está usando o mais velho truque das mulheres para conseguir o que querem: o choro, e ele decide experimentar. "Vai que cola", ele pensou. E abriu o berreiro.
- Buááá eu também quero, lá em aula todo mundo come dessas e eu nunca tive!! Me compra uma mãe?? Buááá.
E ainda tem mais quarenta e nove itens para passar no caixa, porque a funcionária parou de trabalhar para assistir à sua ruina. Então a mãe soluciona o problema de um jeito que, na hora, pareceu-lhe uma boa ideia, ou pelo menos, trouxe-lhe novamente a paz do silêncio.
A mãe acaba tendo que fazer cento e trinta e duas horas de terapia para curar o trauma, pois, ao chegar em casa, ligou a tv e ouviu o Datena falar: "um cinegrafista amador flagra o exato momento em que uma mãe dá aos filhos menores de idade pacotes de preservativos. Isso é um absurdo, pô! Cadê as autoridades?"
O que esta mãe não consegue entender é o porquê! Por que os supermercados não distribuem os itens conforme o público-alvo!
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