sexta-feira, 20 de maio de 2011

Uma página virada

Eu cheguei, eu passei e agora só me resta partir. Sem a droga da poesia e sem as lágrimas... só partir. Prefiro me retirar e guardar as lembranças maravilhosas a ficar e presenciar o sonho se transformar em pesadelo. Fiz duas cartas antes desta: uma no auge da felicidade, outra no começo das desavenças, agora, fiz esta... no fim.
Acredito que ele nunca será o leitor destas cartas. Minhas palavras mudaram, mas eu queria que ele soubesse que o sentimento é o mesmo, se não, maior!
Não importa mais o que irá acontecer daqui pra frente, não quero mais sorrir pela metade. O pior é que eu sei que vai doer mesmo sendo a metade... acho que devo agradecer por nunca ter sido completo. Maldita mania essa minha de não deixar o passado ir embora! Poxa, todos querem ir embora de mim... e eu insisto em não deixar... um dia eu aprendo.
Depois de ter prometido a mim mesma não amar mais... eu quebrei a promessa!! Eu a quebrei todinha, ficou em cacos... cacos que eu desejo juntar e colocar no lugar! Eu quebrei a maldita promessa... Eu plantei um amor, quando sei que ele não deveria ter nascido. E agora? Agora a Madalena arrependida não tem direito de chorar, nem soluçar, e sabe por quê? Porque nunca fui enganada. Ele sempre disse que para ele "o fim" não era difícil, que quando acabasse,"acabou", que seguiria sua vida tranquilamente.. e ontem ele provou isso. E mesmo assim eu plantei o amor. Só que, ao lado - e aqui está o meu erro - eu plantei uma sementinha de esperança. E como ela cresceu!
Sabe aquelas esperanças que movem as pessoas, que as fazem sorrir diante das dificuldades... aquela esperança que todos queriam ter ao acordar? Pois bem, a minha era dessa espécie. Me fazia acordar sorrindo com o barulho encantador do despertador, tomar café escutando as belíssimas músicas da rádio, cozinhar feliz, escapar da aula pra falar com ele ao telefone e mandar mensagens no meio da noite. E todo esse  adubo na volta da esperança se espalhou e fez o amor crescer também. E foi aí que os problemas começaram. 
Você entende que eu plantei, mas foi ele quem adubou??? Por favor, diga que entende que a culpa não é só minha!
Eu acho que eu comecei a cobrar de volta todo o amor que eu dava. Sabe quando você dá uvas ao seu vizinho, mas comenta: "Que lindas maçãs você tem?" Foi isso o que eu fiz, eu dei amor, mas sutilmente eu forcei a retribuição! 
É bem verdade que isso é errado, mas quando se tem uma horta, não se quer ver suas árvores morrerem. Eu, ontem, tomei uma decisão: Matar minhas árvores, antes que as pragas acabassem com elas. As pragas podem ser o ciúme, a indiferença e, principalmente, o egoísmo. 
E, para não deixar que essas horríveis pragas acabassem com as arvorezinhas que eu plantei, cuidei e reguei, eu peguei o machado e arranquei a esperança.

ah... inevitável chorar... me desculpem

Mas o amor... o amor - pobrezinho - eu não tive coragem de matar. Imagine a minha surpresa ao ver que, nesta manhã, o amor havia morrido. Só podia, o amor era uma plantinha parasita e, sem a esperança, não podia viver. O amor se alimentava dela, se fortalecia nela.  Uma vez morta a esperança, por mais motivos que o amor tivesse, ele não tinha forças para viver. 
Depois que as minhas árvores morreram eu olhei pra minha horta... Tudo vazio. Aquelas duas arvorezinhas alegres que balançavam ao ritmo do vento faziam a horta parecer pequena para tantas flores e tantos frutos, mas, agora... agora, o que sobrou parecer ser um infinito espaço vazio.
Ao levantar hoje, não lembro se o sol brilhava, porque o barulho irritante do despertador me deixou de mal-humor. A próxima coisa de que me lembro foi o barulho que fez minha xícara de café, quando eu a atirei com raiva na pia. Estava amargo e forte aquele maldito café! Nem lembrei de ligar o rádio, mas nem foi por estar com a cabeça cheia de pensamentos, ao contrário, eu fiquei horas olhando pro nada e nenhum pensamento me vinha. Cozinhar foi um martírio, e eu ainda tive que presenciar a luta entre a "semeadora" e a "lenhadora"... e elas lutavam dentro de mim pra me fazer decidir o que fazer.
As escapadas da aula são só para que eu possa me olhar no espelho do banheiro e dizer "não" a mim mesma. Não pensar, não ligar, não chorar... não chorar, não chorar... tenho que parar de chorar. 
Agora, depois de morta a esperança... vejo um brotinho verde no que sobrou do amor... Meu Deus! Eu não devia ter arrancado a esperança da raíz.  O amor sem a esperança não é nada... não é nada... Ou melhor, é o verdadeiro nada.

2 comentários:

A. Borges disse...

Profundo. Gostei muito da figura, fostes tu quem desenhou? Quanto ao texto. Tens minha solidariedade, como sempre, tuas palavras são de uma sensibilidade admirável.

Viviane disse...

Alex!! Que agradável visita.
Sim, desenho meu... sabe como é, tempo sobrando e muita habilidade pra desenhar... rsrs
Obrigada!