quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Movimento estudantil: Conosco ninguém pode.

Nome popular: Comigo-ninguém-pode
Nome científico: Dieffembachia amoena
Família: Araceae
Divisão: Angiospermae
Origem: América Central
Ciclo de vida: Perene

Rodeada de superstições, a comigo-ninguém-pode é indicada para quem quer afastar o mau-olhado. Diz-se que absorve as energias negativas das pessoas mal-intencionadas.
Fonte: http://http//www.jardineiro.net/br/banco/dieffembachia_amoena.php

Título: Formando uma cultura acadêmica em Jaguarão.
Esse texto não é nada que devesse, necessariamente, ir parar no jornal ou coisa que o valha, mas a verdade é que não seria nada mal que se soubesse por aí que os jaguarenses estão fazendo história. É com grande orgulho que digo que, pela primeira vez, a comunidade de minha cidade se mobilizou para um bem maior, tão maior que superou o individualismo próprio e natural do ser humano.
O motivo para tal?? Para quem não sabe o que se passa, eu explico; a razão para tanto desconforto é que nossa universidade é multicampi, e o último edital que foi publicando destinando novos cursos aos campi referiam-se exclusivamente aos outros 09 campi, ou seja, o campus de Jaguarão foi o único excluído.
Poderíamos ter permanecido quietos, quem sabe até poderíamos ter ficado na base do diálogo apenas, porém o que acontece é que novos cursos nos foram prometido sim. E já iam chegar tarde. Imaginem nossa surpresa ao saber que nem viriam!
Nada menos que uma surpresa indignativa, uma verdade que não se consegue acreditar por mais que os olhos vejam. Cursos prometidos, cursos esperados, cursos negados...

Reverter o processo?? Praticamente impossível. Parece-me que tudo foi pensado - para não dizer tramado ou maquinado - pouco menos de uma semana antes da abertura das incrições para o vestibular. "Eles" na humilde esperança de que ficássemos quietos e não fizéssemos nada. Atrevo-me a dizer que esses doutores tão hierarquicamente superiores a mim, foram ingenuos se pensaram que cruzaríamos os braços ao saber que nossa universidade federal corria sérios riscos, pois, como já é bem sabido nesta cidade, as pessoas que queriam ser professoras já estão matriculadas e com a formatura garantida.
Mas e quem não quer ser professor?? Vai embora da cidade. E se não tiver condições?? Matricula-se num curso que não quer... e não é necessário ser gênio para dizer que esse aluno vai desistir no meio do primeiro semestre, como diria Chico Buarque, "atrapalhando o tráfego", ou seja, tirando vaga de outro.

Nossos guerreiros - e quando digo guerreiros, refiro-me aos nossos incansáveis professores - fizeram projetos de dois cursos que viriam ao encontro dos anseios da cidade; Psicologia e Turismo. Porém a Magnífica - e quando a chamo de Magnífica é somente uma questão de tratamento - Reitora pro tempore Maria Beatriz Luce alegou, absurdamente, que a cidade vive uma "situação peculiar"(com ênfase na demografia, economia e localização - próxima a três outras universidades federais, além de diversas instituições não-universitárias de educação superior (...)". E notem que coloquei entre aspas porque estas são palavras que, se não sairam do próprio punho da Magnífica, pelo menos ela concordou com tudo, pois assinou. O mais estranho em tudo isso é que me parece que a pro tempore só conseguiu pensar nisso agora, ou seja, depois de ter feito promesas ou, usando palavras mais justas, depois de ter se utilizado de inverdades. Por qual motivo? Ainda não se sabe. E, para ela, pode-se dizer: Dê a esperança a um povo, mas ao tentar tirá-la prepare-se para as consequências!
E as consequências eu mesma digo quais foram, pois participei de todas elas; a primeira atitude a ser tomada foi o bloqueio das entradas da faculdade, até porque feijão não cozinha sem pressão. Foram confeccionadas faixas, vários cartazes e inúmeros panfletos. Grupos de alunos se revezavam em turnos para manter a entrada sempre bloqueada. Na noite do dia 31 de outubro, sexta-feira, realizamos uma caminhada pelo centro da cidade. Logo após, nos conduzimos para a Ponte Internacional Mauá, onde fizemos um semi-bloqueio, ou seja, bloqueávamos e liberávamos depois de algum tempo, pois o tráfego ali é muito intenso. No dia seguinte, um grupo do qual eu fiz parte saiu pelas ruas a fim de distribuir os panfletos e explicar às pessoas o que estava acontecendo e convidá-las para o grande protesto da próxima segunda-feira. A maioria delas já sabia do que se tratava e, tão indignadas quanto nós, prometeram fazerem-se presentes. E não foram palavras da boca pra fora, pois o número de não-acadêmicos que foi protestar surpreendeu e, ao mesmo tempo, alegrou a todos nós, discentes da UNIPAMPA. .
A Reitora alegou que não haveriam novos cursos por causa da evasão que se vem tendo no campus Jaguarão. Ora! Será que é preciso mais que um doutorado para entender que não se tem alunos justamente porque não se tem novos cursos? Aliás, quantas centenas de professores essa Reitora quer formar em uma cidade com menos de 30.ooo (trinta mil) habitantes?? Levando a prosa pra outro rumo, eu diria que, consistindo num problema de médio prazo, isso vai levar à subvalorização do profissional. O cálculo nem é tão difícil de ser feito. Divida centenas de professores por dezenas de escolas e veja o caos!
Quanto aos projetos dos curso apresentados à toda-poderosa - e isto não é um elogio, estou apenas exercitando minha ironia -, principalmente o de Turismo, o qual foi rejeitado sob alegação de que "há carência no diagnóstico dos campos para as práticas profissionais, requeridos por ambos cursos e provavelmente escassos em jaguarão e imediações." Como assim escassos?? Temos 800 prédios sob a proteção do Estado na cidade. Cidade esta reconhecida como uma das mais importante do Rio Grande do Sul, no que se refere ao patrimônio.
Além disso, os projetos de curso, segundo a Reitora, deveriam considerar "as necessidades, interesses e potencialidades do Município e da região circundante." Então, mais uma vez pergunto, porque não o Turismo? Não imagino nada que potencialize e interesse mais à cidade e aos municípios circundantes.
Sobre os argumento que a levou a rejeitar o curso de Psicologia, não queria nem comentar, mas vou. A Reitora, para quem não sabe, disse que "os cursos novos propostosnão são derivados de um tronco curricular comum nem do existente, nem dá área de formação do corpo docente." Porém, que eu saiba, se o curso enfatiza a área de recursos humanos ou pedagógica, em vez da área clínica, este curso se inclui nas Ciências Humanas.
Adoraria saber com base em que a Magnífica disse que o campus de Jaguarão se encontra numa situação "complexa e crítica".

Por ora é isso.
Para finalizar, quero deixar explicito aqui o quão importante foi a presença de cada acadêmico nesse manifesto. Apesar de muitos terem filhos, emprego e demais afazeres, souberam administrar seu tempo de forma a comparecerem sempre que fosse possível, o que consiste num gesto totalmente solidário, uma vez que estão lutando unicamente para o bem do outro e não para o seu próprio. Lembrando que todos os acadêmicos tinham duas opções: poderiam estar em suas casas dormindo tranquilos, ou poderiam brigar por uma causa maior, uma que envolve as futuras gerações. Nem é necessário dizer qual foi a opção escolhida. Todos deram seu mágico jeitinho de procurar argumentos que fossem de encontro às explicações sem nexo da Reitora, o que, aliás, não foi nada difícil, já que ela não mostrou estatísticas, ela simplesmente afirmou coisas sem jamais ter morado aqui, e tampouco sabendo da situação da cidade, que, por falar nisso, não me parece nada "peculiar".

A questão é que nós acadêmicos e algumas pessoas da comunidade (os maiores interessados) nos reunimos, bloqueamos a entrada da faculdade, fizemos uma caminhada com faixas, cartazes, e um caixão - simbolizando a morte da UNIPAMPA. Além disso, organizamo-nos para a distribuição de panfletos convidando a todos para o manifesto, o que surtiu um grande efeito, pois a comunidade deu seu total apoio no protesto de segunda-feira, dia 03 de novembro. Durante todos os dias de protesto circularam os abaixo-assinados, os quais, até o momento, já contam mais de 1.400 (um mil e quatrocentas) assinaturas. Iniciativa própria e custeio próprio.
O apoio dos professores também foi de suma importância. Ainda que não possam escancarar suas opiniões, sabemos quais estão a nosso favor e quais estão contra. E sobre esses professores tão amados há muito que se comentar, mas aí já fica pra próxima postagem...

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