sábado, 10 de outubro de 2009

O dilema dos avaliadores das redações de vestibular.

Muito se tem ouvido falar sobre o fato de os alunos terem de aprender a fazer uma redação que lhes proporcione apenas a aprovação no vestibular, que cumpra todos os requisitos de uma "boa" redação. O que se tem é a parametrização dos textos de vestibular, ou seja, o aluno é levado a produzir um texto que tenha cinco ou seis parágrafos, de cinco a sete linhas cada um. O primeiro parágrafo deve ser introdutório, seguido do segundo e terceiro, nos quais devem constar os prós e os contras da problemática abordada, o quarto parágrafo deve consistir em um posicionamento (não muito, mas quase) semi imparcial e semi crítico e o último paragráfo deve ser conclusivo, para fechar o assunto, mesmo que não se chegue a nenhuma conclusão.
Primeiramente, cabe salientar que o parágrafo dos contras deve iniciar com "primeiramente, cabe salientar", e por sentirem essa necessidade de salientar algo, os alunos, muitas vezes, acabam - e aqui, utiliza-se uma expressão bastante conhecida popularmente - enchendo linguiça, o que pode até acarretar a tão temida fuga do assunto, mas isso parece não importar aos alunos, o que importa realmente é salientar algo que servirá para ser refutado no parágrafo seguinte.
Por outro lado, é bastante lógico e faz muito sentido iniciar um parágrafo que vai discordar do anterior com "por outro lado", no entanto é tão clichê quanto utilizar o próprio "no entanto" e os alunos, mais uma vez, se veem sem saída, frequentando, novamente, aquele conhecido ambiente denominado - não se sabe por quem - de senso comum.
Dessa forma, sente-se uma natural obrigação em começar o parágrafo do posicionamento por dessa forma, dessa maneira, desse modo, qual seja, desde que seja uma "Dessas" e, aqui, solta-se a capacidade crítica - que, infelizmente, acaba sendo freada pelo senso comum na maioria das vezes - de maneira a fazer uma bela demonstração de sobre o quanto o escritor está interessado no assunto do tema da problematização, é um verdadeiro show de "isso tem que mudar", "tem que partir de nós" e outras formas do mesmo tipo. É quase um manifesto silencioso dos estudantes, é como se eles dissessem: - é isso que pedem, é isso que ensinam, portanto, é isso que damos.
Portanto, acredita-se que usar a forma "acredita-se" - mesmo sem saber porque o pronome está posposto ao verbo - é a melhor escolha para dar uma retomada sobre o que foi dito ao longo do texto e, dessa forma, finalizar a redação pondo a culpa em outra pessoa, grupo de pessoas ou no sistema - este último é, geralmente, o mais requisitado nas redações. Para finalizar, ainda que caiba ressaltar algo, e discordar depois, e se posicionar de maneira crítica, e concluir, tem-se que ter, de fato, um conhecimento do tema que, ao ser passado para o papel, seja o diferencial de uma redação em relação às demais, pois os avaliadores já estão cansados de ver textos que parecem produzidos em série e que, muitas vezes, nada dizem. E enquanto o sitema educacional não mudar, os avaliadores continuarão a ver as introduções, os prós, os contras, as críticas e as conclusões, exatamente iguais às anteriores.

Faz-se necessário dizer que, apesar de ter seguido fielmente o "esquema", eu zerei porque excedi o número máximo de linhas. Ano que vem.. tudo de novo.

Um comentário:

Unknown disse...

Vivi
Por muitos anos trabalhei na correção das redações do vestibular da Furg, e o que tornava o trabalho mais cansativo, usando tua expressão, era a parametrização dos textos.
O que se via era uma repetição, os textos pareciam seguir uma receita de bolo.
Não culpo os candidatos, pois numa situação de avaliação é sempre muito arriscado ousar. Outro fator que contribui para essa "receita de bolo" ser tão usada é a atitude dos professores de cursos preparatórios, pois apresentam esse esquema como uma fórmula mágica, resultando muitas vezes em textos medíocres.
Hoje se encontra alguns cursos independentes que priorizam a informação, o conteúdo. Mostrando ao candidato que o importante é o conhecimento do assunto apresentado. Só se consegue falar “escrever” sobre o que se tem conhecimento do contrário acontece o famoso “encher lingüiça”.
Toda mudança na educação é lenta, mas acontece... Vamos ver o que vem por aí com o Enem (que medo) que de certa forma vem quebrar essa estrutura, pois apresenta uma nova proposta... Claro que logo se encontrará "outra forma mágica".
Beijão