terça-feira, 11 de outubro de 2011

Carta para Julieta


Em um muro, na bela Verona, há pouco mais de três meses, deixei uma carta para Julieta. Para minha surpresa, Julieta respondeu. Ao menos, acredito que tenha sido ela, pois subscreveu-se como tal.

A carta que escrevi dizia o seguinte:

Querida Julieta,
não consegui pensar em mais ninguém a quem eu pudesse destinar esta carta. Eu queria muito ter conhecido você, queria ter podido olhar para uma pessoa que teve a certeza de ter sido amada verdadeiramente.
Queria que você não me julgasse mal por eu querer viver, apesar de não ter mais o meu amor. Eu tampouco poderia julgar você por preferir morrer. Apesar disso, somos iguais, nós conhecemos alguém que fez a nossa alma sorrir nos dias mais tristes. Conhecemos o amor, e ele foi capaz de colorir toda forma de ódio e de distância.
Minha amiga Julieta, eu quero que me ajude.
Quero que me diga como posso aprender a não esperar o amor, a não forçar sua retribuição, a amar de graça. Eu não tenho conseguido. E tenho derramado lágrimas demais porque tenho esperança de encontrar um Romeu, tão meu quanto o seu foi seu. 
Eu tento entender coisas quando deveria não pensar mais nelas, e tento esquecer justamente as lembranças que deveria guardar, porque me fizeram bem. Sou errada, não consigo aprender a ser diferente.  
Qual é o segredo, Julieta? Como faço para não fechar meu coração. Ou melhor, como faço para reabri-lo, pois já se fechou.
Segredo para esquecer eu sei que não existe, sei que tenho que tirar as lembranças debaixo dos holofotes e o esquecimento se fará presente, em ambos os sentidos da palavra 'presente'.
E perdoar. Eu não sei fazer isso. Não pense que estou sendo soberba, acreditando que ele tem erros que merecem ou não o meu perdão. Não. Longe disso, minha querida. Falo dos meus erros, não sei me perdoar. Procuro erros por toda parte e penso que deve haver algum problema comigo, porque não os encontro. Penso que não errei e mesmo assim não consigo me perdoar pelos erros que ele julgue que eu tenha cometido.
Me diz, Julieta... o que eu faço se algum dia ele voltar? Eu penso que não vou reconhecê-lo. Se ele perceber que não pode me substituir e me quiser, na condição de seu amor original novamente? O que eu faço?
Lembro do grande poeta que escreveu "Se em noites de travessuras eternas confundimos tanto as nossas pernas, me diga, com que pernas devo seguir?" Era assim que eu me sentia, mas eu me venci, eu consegui seguir com as minhas pernas. E elas me levaram para longe e eu não vejo maneira de voltar nem para espiar de longe porque, como eu disse, tenho medo de não reconhecê-lo. Ou pior, tenho medo de conhecê-lo verdadeiramente e descobrir que a pessoa por quem me apaixonei é a que não existia de verdade, eu a criei e fui feliz enquanto a minha criação participou da farsa.
Do que faço parte, afinal? Eu perteço a uma pequena parte do mundo, enquanto sinto que o mundo todo deveria me pertencer, porque eu sentia como se tivesse o mundo nas mãos quando eu olhava pro lado e ele esatava lá.
Julieta, por favor, leia a minha carta. Leia ela, por favor! Eu preciso saber que você leu. Preciso saber que você sabe que há uma pessoa que entende você, e essa pessoa precisa saber que você também entende ela, que sabe que o amor não é passível de ser medido. Que embora seja infinito, ele cabe num olhar, ele cabe num coração, que ele só não cabe na cama fria, no silêncio que substitui o 'bom dia', que ele não cabe numa lágrima e nem no adeus.
Aguardo sua resposta,
Anne.

Hoje, fiquei sabendo que a carta chegou até as mãos de Julieta, como por que um milagre, ela respondeu a carta. Eu a recebi hoje e chorei lendo ela. Especialmente quando ela responde de maneira tão fantástica a minha maior questão "O que eu faço?"
Obrigada, Julieta, obrigada pelo que você disse:

"Esqueça-o e permita-te ser feliz com outra pessoa. Abra o teu coração. Sorria. E quando te sentires só e triste, olhe para o céu, perceba que fazes parte desse mundo belo e veja que também és divina.
Com amor,
Juli(zi)eta."



Fez-me sentir que, pela primeira vez, não era eu que estava a olhar as estrelas... Elas é que me olhavam.

Um comentário:

Anônimo disse...

Veja a resposta no blog: http://dradireitolbv.blogspot.com/ .
Ahhh, tinha que dizer aonde está a resposta... hehehehe.

Lindo texto! Beijos!