Olha lá, quem acha que perder
É ser menor na vida
Olha lá, quem sempre quer vitória
E perde a glória de chorar
Dá muito trabalho cuidar da horta. Nunca fui dessas que, pacientemente, cultivam plantinhas. Eu até sou de plantar, mas perco a paciência e deixo tudo morrer. Sou assim. E, assim que a planta morre, eu planto outra - nova e diferente - para, logo depois, deixá-la morrer também.
Pra quem pensa que estou realmente falando de plantinhas, esclareço que é só uma metáfora pra falar de felicidade.
Porque é que as pessoas insistem em ir "em busca da felicidade". Já se tornou uma frase clichê. Se é pra usar clichês, prefiro a da borboleta: cuidar do jardim e esperar! O problema de correr tanto atrás dela é que, quando você a alcança, está demasiadamente cansado para cuidar dela como é preciso.
É apavorante como as pessoas parecem pensar que a felicidade é algo material que estará esperando por elas na linha de chegada de uma longa corrida. Que basta alcançá-la e será feliz. Uma medalha. Um troféu. Não é assim. A felicidade não é simplesmente alcançada, como se alcança uma fruta em uma árvore: um mínimo esforço e deu, pode desfrutar, porque se esforçou para tê-la!
Você se esforça para conquistar, mas não move uma palha para mantê-la! Como diria Miss Eller, se você não quer fazer nada, "vá morar com o diabo que é imortal"!
A felicidade deve ser plantada, cuidada, adubada, regada, deve-se tirar as ervas ruins que teimam em se acercar, senão ela morre. E, confesso, nunca me esforcei por fazê-la viver mais que o necessário. E, com propriedade, confesso também, que nunca conheci alguém que se esforçasse por ela também.
Seria mesmo legal se a felicidade estivesse esperando na linha de chegada. Mas não está, ela nem existe. Felicidade mesmo é estar contentado com o que se tem. Ir em busca de algo significa que não há contentamento e, sinceramente, esse é um sintoma de que as pessoas nunca estarão satisfeitas.
As pessoas insistem em "correr atrás da felicidade" sem nenhum preparo físico, esbaforidas, desgastadas. Para que? Por que, se já a temos? Essa nossa mania de complicarmos tudo...
Eu já cheguei até a linha de chegada e, acreditem, não havia nada de duradouro lá. A felicidade é trabalhosa, não é para os preguiçosos. Quando você cruza a linha, você vence (alcança a felicidade) e imediatamente começa a perdê-la.
Vamos usar um exemplo aleatório:
Suponhamos que o garoto se sinta sozinho e passe a acreditar que a felicidade será alcançada quando ele conhecer a garota legal. No entanto, a felicidade não será alcançada neste ponto, ela apenas apontará no horizonte longínquo para que o garoto corra atrás dela. Suponhamos que ele caia no truque e corra, isto é, suponhamos que o garoto se esforce em ir a lugares longes e chatos para encontrá-la. Suponhamos também que ela se mantenha bonita, que tolere certas coisas que ele faz e com as quais ela discorda. Parece que tudo estaria bem se fosse assim para sempre. Mas o que o garoto considerava "felicidade' era um conceito mutante. O que agradou o garoto ontem, já não o satisfaz hoje e será insuportável amanhã. Ou seja, ainda que tudo se mantenha igual, não haverá mais felicidade. Não, não foi ela que mudou, as pessoas nunca mudam. O que mudou foi o modo como ele passou a olhar para ela no momento em que a felicidade começou a correr de novo. E, dessa vez, ele não foi atrás. Desistiu. Ela tampouco correu. Já conhecia o truque da felicidade, não cairia nele uma segunda vez.
Pergunto: afinal, a garota era ou não a felicidade dele? Se era, porque deixou de ser?
Eu tenho a resposta. Aliás, eu tenho muitas.
O problema é que esse garoto era um dos que, erradamente, acreditava que a felicidade estaria na linha de chegada e, uma vez alcançada, seria propriedade eterna do alcançador. E ele não precisaria mover um dedo para mantê-la.
Pois é pois é.. essas pessoas não merecem felicidade. As que merecem, já sabem que a tem. E, apesar das tristezas que possam ter, não correm atrás de nada.