Dear Janice,
estou há dias pensando em uma forma de responder a este desafio e, sinceramente, acredito que eu não vá conseguir, a menos que as coisas que eu venha a escrever sirvam para que se pense que sou masoquista.
O que quero dizer é que a dor é - quase sempre - resultado da lambuza em demasia e, portanto, é bom senti-la, entende? [Antes de bom, eu diria que ela é condição] Porque ela tem um quê de consequência de algo que foi imensamente delicioso. A dor é só o preço que se paga, eu diria que é um preço justo por excelência...
Quando falamos em dor, na esmagadora maioria das vezes, pensamos na dor passiva, aquela que nos infligem, naquela que, apesar de não ser física, dói-nos até os ossos. Ela é errada, ela é maldade alheia, etc. Mas e a dor que fazemos os outros sentir? Sim, porque é inocência pensar que ninguém se entristeceu por algo que fizemos ou desmerecemos. Inevitável: falar em dor e pensar na que se sente, nunca nas que causou...
Você, assim como eu, já deve ter lido a extravagância desacorçoante daquele que disse que "pelas alegrias da vida pagamos tão caro que, às vezes, penso que seria melhor se fôssemos infelizes sempre." E, também, assim como eu, você discorda de cada palavra ou interpretação possível, não é? Já vimos tanto da vida que até com a dor já aprendemos a nos lambuzar e não entendemos por que as pessoas ainda não aprenderam a se juntar entre amigas e rir da dor e sorrir da delícia!
É como a incoerente injeção de anestesia... Se você a renega, você entende tudo... Você entende porque uma pequena dor era necessária... Deixemos doer... Não é bom, mas faz bem. Eu sei a dor e a delícia de ser quem eu sou. E que fique um segredo entre nós: as coisas que mais me causaram dor, são as que eu viveria novamente.
Eu disse que ia parecer masoquismo, mas não importa. Talvez seja mesmo... a delícia de ser eu reside aí! O que eu quero dizer é que há uma diferença entre a coisa e conceito da coisa. A dor não é dor pro masoquista; a dor é justamente a delícia...