... o lugar de onde eu nunca devia ter saído.
A minha casa é o melhor lugar do mundo, aliás, a minha cidade é. Lá fiz amigas verdadeiras, lá tive amores e beijos inocentes... lá, eu, quando sofria, estava perto da minha família, meu porto seguro. Minha família... pessoas boas, não jogamos lixo no chão e alimentamos cachorros que passam pela frente de casa, nunca os chutamos ou os desprezamos (herança de minha boa mãezinha). Sabe, as mães são as pessoas que mais sofrem, porque sofrem junto com os filhos... e nem assim deixam de nos amar. Elas são as únicas pessoas em quem devemos acreditar quando nos dizem: "Isso é pro seu bem" ou "eu te amo".
Mas eu vim pra falar da minha casa. Vamos a ela: minha casa é cheia de gente, cheia de vida e cheia de amor. A casa era pequena, mas foi adaptada para os seis habitantes. Pai, Mãe, Eva, eu, Raque e Paulo. Temos quatro quartos (o de meus pais, o de meu irmão, o de minha irmã mais velha e o que eu dividia com minha minha irmã porque todos sabem que eu tenho medo de dormir sozinha), temos uma cozinha grande, dois banheiros, uma sala maravilhosa de tanta bagunça, um pátio e uma garagem.
Agora, a casa grande comporta só três pessoas, já que minha irmã formou a família dela, eu vim estudar aqui em rio Grande e meu irmão foi estudar em Pelotas.
Tantas lembranças... o poster da Xuxa na parede... agora, só restou a marca descascada na parede, que foi logo coberta pelo poster do Leonardo di Caprio em 2002.
Ah, o quarto da mãe... corríamos e nos atirávamos na cama, apesar das reclamações dela.. lá, a tv era grande! lá tinha parabólica. hoje, a tv não é grande, é enorme, tem todos os canais, tem todas as antenas.
A internet.. ah a nossa internet era discada... tempo de ensaiar a paciência. Não tinha orkut nem msn, pelo menos não eram "famosos", tinha só o MIrc e o bate-papo do Terra.. era o máximo!
Meu celular era um Nokia1220.. rsrsrs nossa! fui a primeira lá de casa a ter celular, ganhei do meu dindo.. eu ligava pro Gugui, pro João, pro Picachu.. o que me lembra que ainda existia amizade entre homens e mulheres.
O quarto do Paulo... lá a gente jogava playstation... os guris iam pra lá e era uma maratona... principalmente quando não tinha memory. Ia o André, o Ivan, o Zé e o william.. toda a gurizada. É.. não tive amigas mulheres kkkk, por isso conheço os homens.
O nosso quarto... uau, impossível contar quantas vezes a gente riu, chorou, se arrumou pras festas, brigou pela mesma blusa, implorou pro carnaval chegar logo, fez nossas listas de metas de "meninos com quem ainda vou ficar"... Altas noites mandando música na rádio... Mariana, Janice, Claudiane, Queila... Dançávamos na frente de casa... o pagode da amarelinha bah! e fui feliz, só digo isso. Naquela época, amizades se faziam por afinidade, não por roupas de marca, carro, dinheiro ou sobrenome.
A sala não dá nem pra falar... os filmes, as reuniões pra ver a copa do mundo eram sempre lá em casa, toda gurizada gostava de ir pra lá, minha mãe nos dava toda a liberdade, todo o espaço e ainda participava.. fazia pipoca, sorvete... Na sala, tinha o Anêmico dormindo, a mãe gritando que o sol tava pegando no sofá... o vale a pena ver de novo, o pai lendo jornal, a mãe arrumando nossas bagunças, ou seja, a vida da gente se fazendo... todo esse tempo, essas coisas passaram reto como coisas normais e agora eu daria tudo pra viver essa rotina por um dia que fosse.
Minha casa tem oito peças e nove janelas, pega toda a luz da rua em todas as estações.
Não tenho janelas aqui... não vejo mais os passarinhos, não tenho um cachorro chamado Pituca... Tudo isso é novo e me machuca. Tenho que dormir sozinha, não tenho mais a Raque, não tenho a vó... quando eu era pequena eu ia no quarto da vó e dizia que tava com frio, ela sempre ia deitar comigo.. entendem que eu fazia de tudo pra não dormir sozinha?
Eu ia no colégio que ficava na rua de baixo... eu era tão tímida que eu não dizia "presente" na hora da chamada, mas as professoras já sabiam que eu não era louca, eu só era inteligente demais. No pré-escolar, as professoras queriam me passar direto pra 1ª série porque eu não aturava as coisas que as crianças da minha idade faziam, eu tinha que levar meu próprio quebra-cabeças, que já eram para adultos. Conclusão, entrei na escola com um ano de adiantamento. nunca fui reprovada, nem na escola, nem na faculdade. Apesar de eu ser a única pessoa que não acreditava na minha capacidade, fiquei com 10,0 em todas as notas do último semestre, incluindo estágio e TCC. Comecei a acreditar em mim.
Um parêntesis: (Acabo de falar com minha irmã no MSN, ela disse que é para eu mencionar ela bastante no blog pra ela ficar famosa,. então, devo dizer que toda noite quando eu dizia pra ela falar alguma coisa, ela contava uma historinha, as vezes ela inventava, colocando como personagens nossos amigos. Depois, quando eu já estava quase dormindo, ela dizia, com uma voz muito engraçada: "Boa noite, garotiiinha" ela me ama tanto que, quando eu pedia pra dormir na cama com ela, ela carinhosamente dizia: "sai pra lá jaburu desgraçado" ai ai, amor fraternal... não há nada mais lindo).
Quando eu comecei a namorar, eu só queria ver filme de terror, pra provar pra mim mesma que eu tinha crescido. Mas ele não entendia porque uma menininha meiguinha como eu (como eu rsrs) gostava tanto de ver sangue... não era o sangue, era que agora eu tinha companhia pra dormir, e não importava se o Mestre dos brinquedos me atacasse no meio da noite com aquele boneco que tinha uma furadeira na cabeça.. Tô brincando, não sou tão infantil assim. Mas, realmente, não sei porque, se vou ter companhia, escolho filme de terror. Sozinha eu jamais escolheria.
Voltando a minha casa... ou melhor, não estou voltando pra minha casa... Tenho que me acostumar a não considerar janelas como coisas vitais...